
Holly Gibney está de volta. E desta vez, em uma história que não é apenas dela, como também sobre ela.
Bonnie Dahl está desaparecida há dias e, sem respostas da polícia, sua mãe, Penny, decide contratar os serviços da Finders Keepers. Mergulhar em um novo caso é a última coisa que Holly deveria fazer, já que a agência está temporariamente fechada – seu parceiro está com Covid e sua mãe acabou de falecer. No entanto, existe algo no desaparecimento de Bonnie que impede Holly de ignorar o pedido de Penny. E quando acreditava já ter visto de tudo, ela irá descobrir que não existem limites para a maldade humana.
Ambientado em 2021, Holly se passa durante a pandemia de Covid-19. E eu diria que o momento recente, mas já histórico, é muito mais do que um pano de fundo para a trama – pode ser considerado um dos personagens. Afinal, todos nós enfrentamos o coronavírus, de uma forma ou de outra e, por mais que o pior tenha ficado para trás, as faltas e feridas que ele trouxe ainda não se transformaram em cicatrizes. E ao ler Holly, isso fica muito evidente.
Stephen King tem opiniões políticas muito estabelecidas e não é raro deixá-las “escaparem” em seus livros. E como falar sobre a pandemia sem falar sobre o cenário político é quase impossível, ainda mais nos Estados Unidos de Donald Trump, o autor o faz com gosto. Em cada detalhe de seu novo livro, King revive os terrores que vivemos e fomos obrigados a normalizar. Mas, acima de tudo, retrata que a pandemia não fez vítimas apenas do coronavírus, mas também – e muito – do negacionismo.
Uma das personagens favoritas do próprio escritor, Holly surgiu na trilogia Mr. Mercedes e roubou a cena em Outsider, antes de ganhar seu próprio conto, Com sangue, no livro homônimo. E por mais que eu não seja defensora da ordem cronológica, sugiro que, neste caso, a leitura seja feita na sequência. Primeiro porque Holly relembra os desfechos de todos os livros, ainda que de maneira resumida. Mas, principalmente, porque é incrível acompanhar a evolução da personagem e saber mais de sua história, além de testemunhar o papel que Bill Hodges desempenha na vida dela.
Holly também é um prato cheio para quem gosta de uma boa investigação. E assim como em Mr. Mercedes, King nos apresenta tanto o ponto de vista da investigadora, quanto dos autores dos crimes. Ou seja, a graça da história não é descobrir o “quem” e sim o “como” e ainda mais o “por quê”. E nessa teia de acontecimentos, King ainda nos leva a refletir sobre aparências, hipocrisia, falso moralismo e como é difícil envelhecer e lidar com as ações do tempo.
Sem se apoiar no sobrenatural, Holly traz a maldade humana na crueza que lhe pertence. É doloroso de ler e saber que nada daquilo é mera fantasia. Mas Holly também é uma história sobre as várias formas de amar – algumas nos libertam, outras nos aprisionam. E não importa a versão, alguns amores permanecem conosco até o fim – pelo bem e pelo mal.
Título original: Holly
Editora: Suma
Autor: Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Publicação original: 2023
Essa sua resenha me deixou com muita vontade de ler a obra. Parece ser bem interessante. Obrigada!
Eu que agradeço por ter lido <3