Resenha de Amanhecer na Colheita – Suzanne Collins

Quando A cantiga dos pássaros e das serpentes, a primeira prequel de Jogos Vorazes, foi anunciado, fiquei receosa. Primeiro porque foi completamente inesperado. Mas principalmente porque pensei que, ao nos contar a trajetória de Coriolanus Snow, Suzanne Collins tivesse a intenção de humanizar o personagem, de justificar ações injustificáveis. No entanto, me enganei e fui totalmente surpreendida por uma história da qual eu precisava e nem sabia.

Desde então, passei a sonhar com outras prequels de JV: uma que contasse sobre a ascensão de Snow e outras que nos trouxessem os Jogos de Haymitch e Finnick. Pois a sorte estava a meu favor e a autora nos presenteou com Amanhecer na colheita, que narra justamente o segundo Massacre Quaternário dos Jogos Vorazes, no qual Haymitch se sagrou campeão. Dessa vez, só não fui surpreendida porque já sabia que eu precisava dessa história.

“Muito fan service” foi uma das críticas que mais vi sobre a segunda prequel de JV. E, por um lado, eu concordo que boa parte do livro é feita de referências a personagens e elementos que já conhecemos da saga original. Mas, por outro, será que isso não faz parte da proposta de escrever uma história anterior à jornada de Katniss Everdeen? Além disso, eu gosto muito de como Collins revela novas informações, mas de maneira quase casual. Então, é preciso prestar atenção para ligar os pontos e tentar preencher as lacunas – afinal, Amanhecer na colheita se passa 40 anos depois de A cantiga dos pássaros e das serpentes e 24 antes de Jogos Vorazes.

Assim como a saga original, a história de Haymitch escancara a forma como o governo manipula os tributos e destrincha a cultura do espetáculo, mostrando como o “show” dos Jogos Vorazes é uma ferramenta para a alienação dos cidadãos da Capital. No entanto, um aspecto que me chamou a atenção em Amanhecer na colheita é a maneira o governo usa a edição dos Jogos para reconstruir a realidade, obviamente da forma que melhor lhe convém. “A falta de discernimento das pessoas transforma a recapitulação [dos Jogos] e a valida como verdade”, escreve Collins, nos lembrando de que vivemos exatamente essa situação fora da ficção, principalmente com as fake news.

Haymitch é um personagem tridimensional desde a saga original. E ainda que ele possa dividir opiniões a princípio, acredito que seja evidente o fato de que ele é como é por puro trauma. Pois bem. Em Amanhecer na colheita, conhecemos cada pormenor dos horrores que ele viveu antes, durante e depois do Massacre Quaternário. E por mais que já pudéssemos imaginar alguns detalhes, a autora nos surpreende com outros acontecimentos. Por fim, concluímos que Haymitch deixou a arena não apenas traumatizado, como também aprisionado em um personagem que ele foi obrigado a criar para sobreviver.

Minha única ressalva em relação à segunda prequel de JV é o fato de que ele é um pouco repetitivo. Explico: ainda que também haja Jogos Vorazes em A cantiga dos pássaros e das serpentes, a primeira nos leva para um cenário bem diferente dentro do universo JV – o ponto de vista de um morador da Capital, 65 anos atrás. Além disso, o contexto do Massacre Quaternário que acompanhamos em Amanhecer na colheita é, em alguns pontos, bastante similar ao que testemunhamos em Em chamas. Agora a ressalva à própria ressalva: ao mesmo tempo, tal repetição faz sentido por mostrar que a jornada de Katniss e Peeta é, de fato, a continuação de algo que foi iniciado já há muito tempo.

Dito tudo isso, estou pronta para mais prequels de Jogos Vorazes!

Título original: Sunrise on the reaping
Editora: Rocco
Autora: Suzanne Collins
Tradução: Regiane Winarski
Publicação original: 2025

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