
Um dos livros que eu mais queria ler nos últimos tempos, O Ano do pensamento mágico foi uma ótima experiência, mas também bem diferente do que eu imaginava.
Era antevéspera de Ano Novo e Quintana, a filha única de Joan Didion, estava em coma no hospital. Tudo já parecia difícil o suficiente, mas, naquela mesma noite, John Dunne, o homem com quem a escritora dividia a vida há mais de 30 anos, morreu devido a um ataque cardíaco. E foi dessa forma que começaram os 365 dias que transformaram não apenas a vida de Joan, como também a forma como a enxergava e vivia, trajetória documentada no autobiográfico O ano do pensamento mágico.
Como sempre digo, o luto é uma dor tão universal quanto única. E é exatamente isso o que Didion mostra com o seu relato. É praticamente impossível conhecer esse sofrimento e não se identificar, não enxergar a nossa própria angústia em tudo o que a autora narra. Ao mesmo tempo, o livro também mostra os mecanismos pessoais que Didion encontrou e desenvolveu para lidar com os problemas de saúde da filha e a perda do marido.
Um deles pode ter sido a forma como Didion escolheu narrar seu “ano do pensamento mágico”. Ainda que retrate o luto de maneira muito íntima e vulnerável, a escritora também se mantém fiel ao próprio estilo de escrita. Considerada uma das pioneiras do New Journalism, ao lado de nomes como Truman Capote e Gay Talese, Didion se apoia em estudos e artigos que “explicam” o luto e que, talvez, a tenham ajudado a processar todas as mudanças que a perda do marido trouxeram. E por mais que eu reconheça que a obra combina perfeitamente a experiência pessoal com o estilo característico de Didion, admito também que o excesso (na minha opinião) de referências acabaram me distanciando do livro.
De qualquer maneira, O ano do pensamento mágico é uma obra louvável e que recomendo para qualquer pessoa que vivencie o luto. Em poucas páginas, Didion discorre não apenas sobre a dor da perda, como também sobre maternidade, a impermanência de tudo, o passar do tempo e, principalmente, as lembranças – ou seja, muito do que fica em carne viva quando quem amamos é arrancado de nossas vidas. E assim, ela acolhe a própria dor de maneiras lógicas e também irracionais, inevitavelmente oferecendo uma abraço a quem se vê na mesma situação.
Título original: The year of magical thinking
Editora: HarperCollins
Autora: Joan Didion
Tradução: Marina Vargas
Publicação original: 2005