
Casados há pouco tempo, Rosemary e Guy Woodhouse conseguem alugar um apartamento no edifício em que sempre quiseram morar: o Bramford. É verdade que o antigo prédio foi o palco de histórias sinistras, mas isso faz parte do passado, certo? E talvez, tudo isso fique em segundo plano quando eles se deparam com a hospitalidade dos novos vizinhos, Roman e Minnie Castavet. Rosemary tem certas reservas em relação ao casal mais velho, mas Guy logo se afeiçoa a eles. E de qualquer maneira, não dá para negar que a vida vai muito bem desde a mudança: a carreira de Guy, enfim, parece estar decolando e Rosemary está grávida!
O início da gestação é desafiador e os Castavet fazem questão de cuidar da jovem vizinha. Com a saúde debilitada e o emocional abalado, Rosemary quase não sai de casa e fica cada vez mais isolada. Aos poucos, ela começa a acreditar que o histórico do Bramford não ficou no passado e que as pessoas que moram ali não são o que parecem ser. Por um lado, Rosemary duvida da própria sanidade. Mas também sabe que, se estiver certa, a vida de seu filho corre grande perigo.
Em 1968, Roman Polanski levou O Bebê de Rosemary para o cinema, transformando a obra de Ira Levin em um clássico atemporal. Há quem diga que a forma como a trama se desenrola já não funciona mais atualmente. No entanto, acredito que apenas o fato de haver esse debate tantos anos após o lançamento do filme já reforce a importância da história, tanto para a literatura, quanto para a sétima arte.
É verdade que, 56 anos depois de sua publicação, O Bebê de Rosemary se tornou um tanto previsível. Seja pelo estilo de narrativa, pela premissa já desgastada ou pela própria adaptação, cuja reviravolta já não é mais tratada como spoiler há muito tempo. Por outro lado, a atmosfera é impecável, ainda em 2024, e o livro traz aspectos que, infelizmente, ainda são atuais. De qualquer maneira, defendo que não podemos nos esquecer do contexto quando lemos uma obra antiga, pois só assim podemos entender e apreciar o seu valor.
Então, pensem comigo: hoje em dia, falar sobre temas como ocultismo e até satanismo não causa nenhum alvoroço. Mas imagine abordar esses temas considerados tabus, ainda mais envolvendo a figura sagrada de uma mulher grávida, em pleno ano de 1967? Não à toa, a edição espanhola de O Bebê de Rosemary teve partes censuradas – e, aparentemente, a obra é comercializada nesta mesma versão desde então.
E quando falo sobre aspectos atuais, me refiro ao machismo que permeia toda a história de diferentes formas; à condescendência com que Rosemary é tratada pelo médico (é claro que existe um contexto específico e que o comportamento do Dr. Sapirstein é extremo, mas, infelizmente, não está tão longe da realidade atual quanto gostaríamos); e de uma cena específica, que seria spoiler revelar, mas que só pode existir porque muitos homens acreditam que o corpo das mulheres pertence a eles – tema também muito debatido nos dias de hoje.
Muito embora escrito por um homem, O Bebê de Rosemary traz um retrato verossímil do que é a gravidez para uma mulher, emocionalmente falando. Além disso, a necessidade de proteger o bebê e a culpa que sentimos quando achamos que falhamos também foram aspectos bem explorados por Levin. E foram justamente esses elementos que permitiram que a história tivesse um final arrebatador e que pode – e deve!! – ser interpretado de várias formas. Boa sorte com as teorias!
Título original: Rosemary’s Baby
Editora: Darkside Books
Autor: Ira Levin
Tradução: Luci Collin
Publicação original: 1967