Resenha de Um homem chamado Ove – Fredrik Backman

Rabugento e inflexível. Duas palavras que definem Ove muito bem.

A história começa quando a caixa de correio de Ove é acidentalmente esmagada pelo novo vizinho, que chega ao bairro com a esposa grávida e duas filhas pequenas. A partir de então, o dia a dia de Ove é invadido pela nova família, o que não apenas perturba seu mundo propositalmente solitário, como também frustra os grandes planos que ele havia arquitetado.

Os primeiros capítulos são responsáveis por nos apresentar Ove em toda sua intransigência. E é normal que, nesse início, nosso sentimento oscile entre irritação e certa diversão. No entanto, conforme a história avança, Fredrik Backman nos entrega uma construção simplesmente impecável: ao narrar o passado do personagem, o autor não apenas posiciona a trama no tempo, como também nos leva a compreender por que o protagonista é como é – afinal, somos o que somos, mas também somos produtos do ambiente em que vivemos. E assim, fica claro que a inflexibilidade de Ove é, na verdade, a forma que ele encontrou de “controlar” uma vida que não lhe foi muito gentil.

Um homem chamado Ove também aborda a aposentadoria, assim trazendo algumas diferenças geracionais. Enquanto muitos de nós sonham em não precisar trabalhar para viver, o protagonista é, de certa forma, definido por seu trabalho. “Ove e Rune pertenciam a uma geração em que as pessoas eram o que faziam, não aquilo sobre o que falavam”, escreve Backman em determinado momento do livro. Dessa forma, não ter mais um trabalho faz com que Ove sinta que não tem mais utilidade, e esse é também um dos pilares da história.

Minha primeira experiência com Backman foi com Gente ansiosa, que, entre outras coisas, não me agradou muito pelo senso de humor – um estilo meio comédia pastelão que não é minha praia. Reencontrei esse elemento em Um homem chamado Ove e, apesar de continuar não gostando, admito que, dessa vez, me incomodou menos e fez mais sentido.

Dito isso, o livro está longe de estar entre meus favoritos, mas gostei muito de fazer a leitura. Principalmente porque a vida de Ove é uma história sobre vários tipos de luto – por quem amamos, pelo que perdemos, pelo que nunca temos a chance de ter, pelos sonhos que não se realizam… E se tem algo que a obra de Backman faz é mostrar que é necessário encontrar formas de compartilhar a tristeza. E, talvez, a nossa verdadeira missão nessa vida seja encontrar quem esteja disposto a dividi-la conosco.

Título original: En man som heter Ove
Editora: Rocco
Autor: Fredrik Backman
Tradução: Paulo Chagas de Souza
Publicação original: 2012

Leitura realizada em conjunto com o Clube Namanita

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