Eu não planejava falar sobre Antes que o café esfrie 2. Mas, então, eu mesma viajei no tempo, assim como os frequentadores do Funiculì Funiculà. Na obra de Toshikazu Kawaguchi, existe esse café em que é possível voltar ao passado. No entanto, antes de vivenciar a aventura, o viajante precisa concordar em seguir algumas regras irritantes – uma delas é voltar ao presente antes que o café esfrie. Eu terminei a leitura pouco antes do dia em que a partida do meu pai completou 1 ano. E nessa noite, adivinhem o que aconteceu? Sim, eu dormi, voltei no tempo e tivemos um breve reencontro.

No meu sonho, estávamos fazendo umas das coisas comuns que mais gostávamos de fazer juntos: passeando no shopping. Estávamos em uma loja de roupas e eu não conseguia decidir o que comprar. Fiquei angustiada, pois já estava na hora do shopping fechar e eu seguia indecisa. Foi quando “o meu café esfriou” e eu acordei. Mas, de volta ao presente, a angústia deu lugar à leveza. Afinal, sonhos são, para mim, como visitas. E quando sonho com quem já não está mais aqui, o impossível acontece: a saudade aumenta, ao mesmo tempo em que diminui.

Outra das regras irritantes da viagem no tempo em Antes que o café esfrie é: nada do que você fizer no passado poderá mudar o presente. Alguns visitantes do Funiculì Funiculà desistem da aventura por conta disso. Outros seguem mesmo assim. E esses… Ah, esses descobrem o que eu descobri quando aprendi a voltar ao passado para encontrar a minha mãe: não existe tempo dentro de nós. Existem os fatos e os nossos sentimentos em relação a eles. E os fatos não podem ser alterados, mas é através da transformação que acontece dentro de mim a cada reencontro que eu mudo o presente e o futuro.

Como eu poderia não falar sobre uma obra que me proporcionou um reencontro com o meu pai? Então, viajem no tempo. Reencontrem quem vocês amam. Visitem a si mesmos. É o que nos mantém inteiros, mesmo quando a vida insiste em nos fazer em pedaços.

Título original: この嘘がばれないうちに
Editora: Valentina
Autora: Toshikazu Kawaguchi
Tradução: Jefferon José Teixeira
Publicação original: 2020