
Em A Filha Primitiva, romance de estreia de Vanessa Passos, conhecemos uma avó, uma mãe e uma filha. Elas não têm nome porque, de certa forma, poderiam ser – e são – muitas mulheres mundo afora. As três dividem o sangue, a casa, a vida. E também o abandono, em suas diferentes formas.
A escrita de Vanessa Passos é extremamente honesta e, por trazer tantas verdades difíceis, é também brutal. Para ela, não há meias palavras ou eufemismos. A vida e os sentimentos são o que são. Mas, como uma ironia, há também muito o que desvendar nas entrelinhas de A Filha Primitiva. Uma leitura para mergulhar muito além da superfície.
A mãe é uma personagem incômoda. Ela não se preocupa em manter as aparências ou parecer boa e, por isso, pode externar os sentimentos mais íntimos de muitas mulheres. Então, sim, a mãe é uma personagem incômoda. Mas, ao deixar o rio de verdades dolorosas fluir de si, ela também o deixa fluir de nós.
Mais do que a maternidade, o foco de A Filha Primitiva é a ancestralidade. Afinal, nem todas somos mães, mas, inevitavelmente, somos filhas. E as heranças daquelas que vieram antes de nós se empilham sobre os nossos ombros. Como fardos ou dádivas, sempre invisíveis aos olhos, mas partes irrefutáveis de quem nascemos e nos tornamos.
Editora: José Olympio
Autora: Vanessa Passos
Publicação original: 2021